Poesia alucinante
Um dia
Rumando o costume
De rumar à padaria
Pra ver se alguma sobra
De mordida ou de bebida
Encontraria
Encontrei um rapazinho pelo caminho
Mais magrinho do que eu
Com um nariz vermelho
E uma mão branca de farinha
Com um balançar vagaroso
De sua cabeça em autorização
Sentei-me ao seu lado
Pus-me a falar, daquilo
O que sabia
O meu próprio legado
“Pois deixe isso de lado
Se nessa vida andarilha
Já somos a metade pó
Por providência
Não lance ao vento o que lhe resta
Por ter de si mesmo dó
Sei que é dura essa vivência
Mas eu nunca vi irmão meu
Da dureza se livrar
Condenando a paz e a sanidade
A tão cruel penitência”
(Pobre garoto, pensei,
Não sabe o que fazer com tanto céu na cabeça
Pois apesar da sofrida aparência
Carimbada pelos pesares da grossa vida nossa
Tinha idade pra ser o filho que a Rosa não me deu
De tanto sol que tomou nas costas,
Disse o doutor..
Por tanto trabalhar na roça
Mas isso aí já é coisa que ver com Deus)
Me indagou num jeito inquieto
Numa dança capoeira
Do corpo possuído pela tremedeira
De brigar com o rebuliço
Desses vícios indigestos
“O que é que cê tem ai na mão?”
O menino pareceu ter se interessado
Pelo quê, num papel de pão amassado
Eu tinha recentemente escrito
E tomado por uma vontade
E pela oportunidade de prestar serviço
Em resposta só abri um riso
E toquei a escrever-lhe
Algumas palavras vindas
Da memória (e das antigas)
De pessoas no mesmo estado
Que passaram pelo meu passado
Que encontrei em diversas trilhas
Quem sabe uma poesia
Não despertava um rumo
Ou abria algum caminho
No olhar vazio daquele pobre menino
Entreguei-lhe a “folha” dobrada ao meio
E logo ele arregalou os olhos
Que eu mal tinha visto ainda
Bateu agradecimentos nas minhas costas
Com tanta vontade que até doía
Mas eu segurei e não falei nada
Já que a dor era de alegria
Tão logo levou a mão ao bolso da jaqueta
Que ficou lá por um tempo
Se remexendo
Como quem não encontra o que precisa
Fiquei ali de canto, e pensei por um momento
Que algo mais em agradecimento ele queria me dar
O que será?
Achou!
Uma trouxinha de saquinho
Que ele abriu e começou a manipular
Pegou o papel de pão
Fez algum tipo de origami
Um lance bem bolado
E fumou minha poesia
*JF
&lis*
29/07/14