Ai meu Deus
Ai, meu Deus, cai em tentação.
Não por fraqueza, mas por contemplar uma das belezas da tua criação.
Sei que és unipresente, mas contarei o fato.
Pois, por minha visão, talvez não me impute esse pecado.
Senhor, quando vi Paloma, o sol ficou ofuscado,
E tudo que eu conhecia por beleza foi desfigurado.
Naquele momento tudo fugiu, mar,
Terra, chuva e vento.
Senhor, ainda que sego fosse, pecaria
Pois, a vi através de sua voz, que as lâminas do vento trazia.
Não a desejei para um ato pecaminoso
Nem para um laço conjugal, isso seria criminoso.
Pois, o resplendor de sua beleza chega a ser angelical
Ao passo que adora-lá, me seria mal
Senhor, enquanto eu viver verei tal cena: olhos tão belos, que mais belos não poderiam ser,
Lábios e voz que se confundem, pois, não posso descrever
Troncos e membros que iguais eu nunca vi, posso dizer
Os cabelos, não como a aurora, mas um misto de ver e sentir, o amanhecer
Pelos olhos de um poeta
Pois só assim valeria a pena
Julgai-me Senhor com a força da tua misericórdia
Mas não apague das minhas lembranças essa cena,
Mesmo que achaste sórdida.