CÃO
Sinto-me um objeto inanimado,
sem direito a reclamar,falar,sentir...
apenas um joguete,
um cão tolerado...
passam por ele e não olham
ou passam por ele e o afagam,
dependendo da vontade...
e ele lá, no canto, quieto aguardando,
não exigindo nada, não latindo,
sabendo que precisa da piedade dos passantes,
seja essa piedade ruim ou boa...
e ele fica a espera disso,
para servir quando precisarem ou quiserem,
sempre disposto e com vontade,
esperando ser útil
para continuar no seu canto, mesmo enjeitado...
e não adianta fazer nada, absolutamente nada,
porque todos os seus atos, sejam eles quais forem, não vão mudar nada,
não vão servir de garantia para piedade,para bondade, para misericórdia!
Ele sabe que isso não depende dele
e mesmo assim continua fiel,
com o olhar cheio de ternura e passividade,
com alegria, êxtase, esperança
de conseguir apenas um esbarrão, um olhar...
Um cão tolerado...
Um cão ordenado...
Um cão adestrado...
Um objeto à mercê da Tua piedade e compaixão...