FIM DE DIA

Chego, sem saber que aqui estavas,

cansado do meu dia,

sabendo-me descrente de tudo

o que não seja dormir.

Quando entro no quarto,

e um resto de sol coado em cortina

te revela derramada sobre a cama,

avermelhada, dourada,

renasço em outros humores,

mas com a certeza de estares dormindo.

Dou por mim imaginando banhos,

agitando martinis, acendendo velas

para um jantar de vinho e queijos,

á média luz.

Dou por mim pensando no que fazer,

enquanto me vou despindo

para te surpreender, e te dar

o despertar sacana, memorável,

que adormeceste esperando.

E tu ali, nua sobre a cama,

em total ignorância de mim

e do agito que matou meu cansaço,

pareces-me subitamente frágil,

pequenina, mais garota travessa

que mulher ladina...

-quase inocente.

De seios esmagados contra o colchão,

ganhas novas curvas e relevos,

e as tuas nádegas, nessa posição,

sobre o lençol escuro e brilhante,

eternizam-se como numa pintura antiga,

e gritam-me aos sentidos.

Chego perto, ainda sacudindo um resto de roupa,

para um beijo quase casto, sobre os cabelos,

numa quase esperança de que despertes,

e me poupes o remorso de te acordar.

Beijo-te suavemente, cheirando-te,

enquanto te viras e me olhas

por um momento, sem me veres,

já de regresso ao teu soninho gostoso.

E nesse olhar, que foi tão rápido,

brilharam estrelas escuras, só para mim,

prometendo prazeres e loucuras,

que o sono apenas adiou.

No teu sono, ainda me aguardas

-sem saberes que já cheguei.

E que te amo, pelas promessas

que fizeste, sem saberes que fazias...

Maio 2007