Canção das Epístolas
I
Há muito tempo eu não ouvia
A doce canção das epístolas.
Arrumando alfarrábios,
Ao fundo, na gaveta, pousadas,
Encontrei-as.
Ao abrir as partituras mudas,
Comecei a ouvir a canção das epístolas.
Soaram forte, retumbaram:
Tum, tum, tum...
Em meu pobre coração.
Longe de serem frívolas as epístolas,
A sua canção era bem angelical.
Quase uma epopéia,
Se comparada à viagem heróica de Ulisses,
O bravo homem, o guerreiro!
E além de tudo, o fiel companheiro
De sua fiel amada.
Soa, canção!
Atinge, em cheio, o meu coração!
Soa,
Porque há muito tuas notas estavam adormecidas
Pelo medo, pela indiferença, pelo descaso.
Ecoa, mas vá com sutileza
Para que não percas a beleza
Dos momentos felizes das tuas letras.
Ah, epístolas!
Eu que, outrora, prometi a mim mesma descartá-las...
Que covarde fui, ao ouvir a vossa bela canção,
Escrita com letras à mão,
Oriunda de um raro coração...
Transbordaram-me,
Da alma aos olhos,
As gotas da chuva cristalina de um fim de tarde
Chamado saudade.
Detalhes... muitos detalhes...
Já os havia apagado,
Mas me foram recuperados,
Ao som da canção.
Cansei, cansei...
Cansou também meu coração...
Cansou meu coração
De ouvir esta canção.
Hoje, ela, por si só, soa
Com a letra muda, como lagoa
Sem regente e sem maestro.
Não há batuta.
Não há platéia.
Não há retorno.
Não há orquestra.
Calou-se a canção,
Mas, as epístolas, ainda, são.
Até quando irão
Resistir ao tempo,
Ao frio,
Ao sol,
À chuva,
Às traças?
Tim-tim: à solidão!
Tilintam as taças.
(Em, 01/05/2007)
II
Após a chuva cristalina da tarde-saudade,
Caiu a noite da verdade,
Com suas estrelas radiantes,
Fazendo brilhar a consciência pensante.
Saudosa, mesmo, é a canção
E não, exatamente, as epístolas!
E toda canção que se preza,
Está presente para ser aprendida,
E não será a falta do maestro
Que acabará com o belo
Da estimada canção bendita.
Há uma canção expoente:
A que não me deixa desfalecer,
A que me torna mais contente,
E, assim, convida-me a crescer:
Canto do canto do amor
Canto do canto de luz
Canto do cancioneiro, em flor,
Canto do Amor de Jesus.
(Em, 05/05/2007)