FELIPIANDO EM CORES
Quanto maior o potencial de sentir as coisas
E aquilo logo ali
Maior o derrame das ilusões
Falo do encantamento do mundo
Que fica apenas na imagem desbotada
Dos tons de outono
Estar no mundo é tão frouxo
É ser um figurante de história alguma
Do todo coisificado
Creio que o mais sensível seja a percepção das cores
Que em seus tons e sons explicitam a iminência do fim
Um término cinza, branco – gelado e cheio de nada.
A cada cigarro, a cada trago interiorizo
Sutilmente o que não há no sensível
É como estar à beira de compreender a loucura
Talvez, só os loucos são sóbrios
Para quem sonda o observador
Não é difícil confundir complexidade perplexa
Com um estado deprimido
As palavras falham em comunicar
É só o sentir na ausência dos sentidos
É só a expressão no borrão
Na mancha de tinta reveladora
De tudo que não está dito
Mas, de alguma forma, habita dentro de mim.
A busca da verdade
Desemboca em denso lamaçal de nada
Pela busca
Termina-se por aprisionar-se na própria busca
A ânsia pelo instantâneo
Pela derradeira resposta causa náuseas
Ocorre um repúdio do outro
Que só explicita a minha coisa
E então, só as cores gritam
Só as cores tonificam
Perceber as cores é quente, doloroso, sutil – é íntimo
Compreender as cores das coisas
É ouvir as vozes pintando, em vermelho sangue, o silêncio.