BALADA DO NATIMORTO

Mamãe, eu nasci morto

e nasci torto

e não nasci.

Mamãe, eu nasci só.

Na beira do rio,

com o frio na pele,

nasci para morrer:

não perdi tempo - morri!

No meio da noite,

com a voz de um gato,

clamei minha sina

que ninguém quis me dar.

O som dos tambores

de um tempo inconseqüente

batem em meu cocuruto

de menino indigente.

Mamãe, não me quiseste.

Então por que deste

a tua pele para as mordidas?

O teu sexo para o prazer

de homens tão brutos

no mundo, por que deste?

Gozaste? Amaste?

Ou simplesmente vendeste

as horas e o calor

de teu colchão de palha?

Minha mãe, meu sangue

misturado com o teu

são uma pintura

de dor e de medo,

de loucura.

Bebi de tuas lágrimas!

São por mim, minha mãe?

São por mim?

Deodato
Enviado por Deodato em 16/05/2007
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