BALADA DO NATIMORTO
Mamãe, eu nasci morto
e nasci torto
e não nasci.
Mamãe, eu nasci só.
Na beira do rio,
com o frio na pele,
nasci para morrer:
não perdi tempo - morri!
No meio da noite,
com a voz de um gato,
clamei minha sina
que ninguém quis me dar.
O som dos tambores
de um tempo inconseqüente
batem em meu cocuruto
de menino indigente.
Mamãe, não me quiseste.
Então por que deste
a tua pele para as mordidas?
O teu sexo para o prazer
de homens tão brutos
no mundo, por que deste?
Gozaste? Amaste?
Ou simplesmente vendeste
as horas e o calor
de teu colchão de palha?
Minha mãe, meu sangue
misturado com o teu
são uma pintura
de dor e de medo,
de loucura.
Bebi de tuas lágrimas!
São por mim, minha mãe?
São por mim?