Eu

Era de manhã;

o vento fazia ondas no mar.

Sim, eu sabia que era de manhã

mas essa luz eu não via,

para mim não era dia,

era uma noite de trevas,

um dormir sem despertar.

E essa manhã-noite-agonia

era uma praia sem mar,

um vento que não assobia,

um dormir sem descansar;

era assim que eu via o dia:

uma noite sem luar.

Mas depois de muito tempo

uma estrela eu divisei.

Era uma estrela pequena,

sem muita graça, longínqua,

vivendo em outro sistema,

mas dessa estrela eu gostei.

E a noite virou dia,

não era mais agonia,

não era vento sem mar;

era um dia bonito,

eu divisava o infinito!

E eu voltei a o amar.

Mas esse meu amor-dia,

com todo esse seu clarão,

à estrela disse um não,

não aceitou sua luz.

E eu, por amar o dia,

continuo em minha noite.