O poeta pede a seu amor que lhe escreva (Frederico Garcia Lorca)*** Uma poeta atende ao pedido (Tânia Meneses)
O poeta pede a seu amor que lhe escreva (Frederico Garcia Lorca)
Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.
Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.
***
Uma poeta atende ao pedido (Tânia Meneses)
Morte instalada nos meus versos
De minha palavra tu não precisas
Eu te amo mais que o Amor a si mesmo ama
Sou da flor só o aroma
Imersa nas veias do Universo
Não encontro a lua, sequer de coração disponho
Procuro a saída dentro dos tubos da vida
Procuro a porta por onde entrei no sonho
Se de palavras faço uso, eis que são tuas
Veludos de patas de tigre entre os dedos
O indefinível ao redor dos olhos das pombas
Loucura por loucura, do que a vida é feita, eu já não sei
Se de escuros e claros ou só de penumbras
Sobre a pequena mesa onde repousam os medos