Fresta
Sou daqueles que de soslaio
Vê a vida se deitar
Com o amor ignorante
Que faz o silêncio falar.
Sou daqueles moradores
Antigos de um peito só
Que não largam do torrão
A não ser que vire pó.
Nessa casa que é meu peito
Trancada por fora e por dentro
Vive a minha companheira
Que às vezes escapa no vento.
Da bucólica fantasia
Que transborda meu inteiro
Sou metade do desejo
Que juntou teu outro meio.
Sou mais lúdico que real
O acaso não me basta
Sou dos eus, um marginal
Ruminando a parte ingrata.
Se me perco em outro meio
No sonhar dessa amargura
Me transporto noutro tempo
E no crepúsculo busco a cura.