DUPLICIDADE
o santo e profano numa mesma sintonia...
com culpas vindo e cedendo,
com desejos presos,
como se cada gesto fosse pesado em duas balanças diferentes...
Um se rende ao outro,
como dominador e dominado...
não há algoz nem vítima,
nem vencedor nem perdedor... apenas uma enorme compensação,
enorme e prazeirosa...
Ambos buscam o mesmo caminho,
apesar de individualmente,
solitariamente...
É como se Deus e o Diabo se dessem as mãos
e se acoplassem em prol da metamorfose,
onde a hóstia representa o vôo
do medo e do desejo...
E eles se comungam,
comungam a relação cúmplice
na vertigem do mergulho!
Eros e Tanatos
:
se fodendo e se odiando e se amando
e se acariciando e se esbofeteando...
Fazer amor com a alma e não com a pele...
A alma transformada em carne,
carne viva,
pulsante, latejante...
Carne que se transforma em verdade
refletida no espelho do que somos
e escondida na carcaça do que mostramos...
Metade santo, metade profano!
Vadia do caminho que se apresenta,
andarilha do sonho da realidade,
cadela do desejo que se manifesta...
Tudo em uma alma buscadora
mergulhando no desconhecido que emerge
no sol que se manifesta...
E a onda arrebenta
na fuça que se mostra...
Espumas surgem como suor
lavando o medo do que vem...
Vertigem! Santidade! Profanidade!
Carrossel dos opostos
que gira no infinito
da mendiga de Ti!