Mas não é só isso
Luciana Carrero
A poesia vem de onde?
Nem mesmo o poeta sabe
Vem da dor de uma chacina
no cheiro ácido sulfúrico
Mendigo topa com ela
ao dobrar de uma esquina
cambaleando, sem comida...
Em todo o lugar se cabe
E vem do cheiro das rosas
E vem das "vinhas da ira"
enrustida em meio a prosas
sorrindo à cara do pranto
gargalhar de pombagira
Chorando dor de alegria
namorando lua e estrelas
verdes bosques e procelas
O poema vem de sequelas
querendo libertação
se conformando com morte
reformando-se com sorte
renascendo em mortas cinzas
cavalgando apocalipses
cantando suave canção
na ária de um bardo triste
Vagido do nascituro
que à porta da gruta passa
para o mundo da desgraça
Quer recriar o universo
com a pretensão de um verso
a brotar do coração
E também nasce das tripas
Mas o que ela tem de bom?
Tem de bom que anestesia
Da nossa mágoa é diurética
Cadeira de paraplégico
cortinado e fantasia
cantilena em prol da amada
conversa mole e vazia
E acham que isto é pouco?
É o castigo de um deus louco -