Noite de setembro
Joaquim,
Perdoes a mim,
Por violar o teu merecido descanso,
Na noite desse sombrio domingo.
É que, sem saber a quem mais recorrer,
Para não perecer indignado confidencio-te esse ultraje.
É que não cabe mais a dor no silêncio dessa cidade.
Não cabe mais fingir igualdade,
Ficar com a boca entorpecida de voz submissa,
Nesse parque infanto juvenil,
Dessa vila chamada Brasil.
Se não sabes,
Já somos República,
Podemos gritar Independência,
Mas não podemos incitar a desobediência,
Mesmo quando a lei, em silencio repouse no papel,
Direitos e deveres.
Isso posto,
Fosse praxe continuo,
Não seria eu um simples menino,
Emissário do clamor,
Que desassossega vossa alma.
É que me corrói tanto o peito,
Envergonha o respeito,
Que me inviabiliza dormir no leito,
Não saber a quem mais solicitar justiça.
É que sangra os olhos,
Que mata aos poucos,
Deixando sem forças,
Ver que a fome e a miséria,
Ainda pactuam com indignos,
Que governam essa terra.
Ver dia a dia no berço da suave manhã,
Filhos dessa pátria sagrada,
Morrerem no asfalto, sem teto,
Sem perceber a luz, Sem rumo e sem nada.
E sob esse desalento,
Ver a crescente indiferença,
Entender a corrupção das ações,
Que mutilam o povo,
Sob o contrato da ignorância,
Como prática de ascensão.
Ver que o povo,
Ainda para nas esquinas para ver o desfile,
Sem qualquer reação,
Quando não usa, a violência como razão de insatisfação.
Diante desse legado,
Peço-te ao menos, que ouça.
Já que a inatividade, hoje é a raiz da nação.
Não sabendo ao certo o que fazer,
Busco na insanidade,
Na intransigência alheia,
A saída, para tirar da garganta,
Essa nesga amarga de ineficiência do Estado.
Para que eu, mesmo enfermo,
Em plena metástase da apatia,
Possa sonhar nos meus últimos dias,
Com um futuro prospero a nova democracia.