Ode ao Edifício
Oh! Grandioso colosso de concreto
Armado e vidro e aço e fios e canos;
Ousado simulacro de Babel
Que busca e busca alturas com a ponta
Estreita de seu dedo-para-raios;
Criatura que se estende com raízes
De cobre e sintetiza sua luz
com a seiva de volts alternados;
E vê com olhos vítreos onde os olhos
Vazios de atra carne se debruçam;
E sente com a pele de argamassa
O frio desumano das de pele;
E aspira com pulmões aconchegantes
Centenas que não são além do número;
E digere com ar climatizado
O triste numeral de almas humanas;
E estende sua língua nos sapatos
E lambe dos sapatos que se limpam
Os gostos variados da amargura;
Os tons de escuridão que vêm nas almas
Que adentram sua boca desdentada
Buscando qualquer coisa tripa adentro
Depois de navegar por quarteirões
No grande Estige gris de piche e brita;
E canta esse seu canto persistente
De assovios sem pauta e sem escala;
E canta em si a vida exuberante
Quando em si moram máquinas orgânicas;
E canta esse seu canto matizado
Quando as máquinas bisam mesmo loop;
E canta serenatas para o vento
Quando o amor vai morrendo entre os de carne.