A Era do Ferro
Pela janela olhando,
Impotente,
Vi a esfera.
Envolta em nuvens escuras de fumaça,
Das fábricas e indústrias químicas.
Por um instante,
Fixo os olhos num lugar,
Buscando a saudade, fui ao passado...
Que beleza era alí, a cacimba.
Inspirava os moleques Sacis e os artistas,
Saciava e subsidiava o trabalho das mães e lavadeiras.
Não pude impedir,
Que o arranha céu apagasse o lugar.
Olhando a rua,
Após a chuva fina,
Me vi com os meninos,
Embaixo das bicas, correndo sem direção,
Para inventar a imaginação,
Do que vinha do coração.
A pensar nos amigos de infância, não fui capaz de impedir,
Que eles fossem expulsos de suas casas,
Para nunca mais voltar.
Perturbado ainda, não pude deixar de lembrar o bosque,
Em chamas a morrer,
Com os pássaros agonizando carbonizados,
O riozinho sacrificadamente soterrado com as flores secas ao redor,
Para serem ruas de acesso ao trânsito dos carros,
Que ceifariam a vida do meu amigo.
Já sem muitos anos,
Verso a dor de não poder envelhecer,
Pois mais do que morrer é em vida nada fazer,
É sentir e ter a certeza que a liberdade é para poucos;
É ver o dia amanhecer e não poder impedir,
Que tantas crianças perdessem a inocência,
Para a consciência insana e ignorante de embarcar na morte das drogas.
Observador dessa miséria humana,
Nada pude fazer,
Quando o caos vestido de capital,
Ofereceu o progresso a sociedade,
As custa da sua alma e da eterna guerra urbana.
Refém de um quadro,
Desenho esse fardo,
Para que as gerações reflitam,
Sobre o cuidado de amar e viver.
Para que não se sintam lesados,
Quando de suas mãos nem a esperança sobreviver.