A DIVINA ARTE DA POESIA

E se o indizível da carne está no cerne

da matéria edificante lentamente

à esmorecer dia após dia.

E se o medo da morte se dissolve no acido

e na experiência da própria vitalidade

deixando os ossos livres e lívidos

no chão poroso do deserto

à espera da purificação

ritual da chuva e do fogo.

E se da sombra temprana me acerco

sob as cerejeiras de Tchecov

o corpo na preguiça da tarde burguesa

e no refrigério.

Nada mais há senão tentar-se logo

a solução para banais mistérios.

Que andemos mas sem cajado que sustente.

Da exata hora e existência se faça a fome e a moradia

anunciando o fenecer da moral e da guerra

nós todos gritaríamos o findar desta agonia

no mundo em toda a parte.

E seríamos a um só tempo o passado e o futuro irrevelado

fundido amor suave fino etéreo à ser compartido

unindo sabe deus à quantas almas ordinárias e vadias

e reconstruindo a ideia da transcendencia

de novo como revelação da luz amálgama originaria

matéria bruta da arte e da poesia.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 15/05/2007
Reeditado em 16/05/2007
Código do texto: T488171