A DIVINA ARTE DA POESIA
E se o indizível da carne está no cerne
da matéria edificante lentamente
à esmorecer dia após dia.
E se o medo da morte se dissolve no acido
e na experiência da própria vitalidade
deixando os ossos livres e lívidos
no chão poroso do deserto
à espera da purificação
ritual da chuva e do fogo.
E se da sombra temprana me acerco
sob as cerejeiras de Tchecov
o corpo na preguiça da tarde burguesa
e no refrigério.
Nada mais há senão tentar-se logo
a solução para banais mistérios.
Que andemos mas sem cajado que sustente.
Da exata hora e existência se faça a fome e a moradia
anunciando o fenecer da moral e da guerra
nós todos gritaríamos o findar desta agonia
no mundo em toda a parte.
E seríamos a um só tempo o passado e o futuro irrevelado
fundido amor suave fino etéreo à ser compartido
unindo sabe deus à quantas almas ordinárias e vadias
e reconstruindo a ideia da transcendencia
de novo como revelação da luz amálgama originaria
matéria bruta da arte e da poesia.