Elemental

Minha carne-papiro ondula e urra

com o suspiro do teu centro.

Assim, as palavras traçadas

se desprendem e inflam

com o teu cheiro de vento.

Ao caírem na cama - ou na água -

se misturam em silêncio,

desconsonantadas.

Percebo sem medo que me

sobram apenas vog[ais] e mãos apertadas.

Sem poder falar,

te beijo com os dedos,

te grito com os olhos,

te escrevo com saliva.

Danço tudo o que o corpo suplica.

Pensas em me rasgar com os dentes,

mas, voluntariamente,

pouso em cima do tempo,

me deito e te derramo em mim.

Com tanto alento,

compreendo, enfim:

mesmo submersa no teu mar,

minha terra pode respirar.