Arritmia

Sei que andamos desafinados, errando o tom, perdendo o som, o bom... senso. O coração bate em descompasso, cambaleante e manco sobre os próprios sentimentos.

Hoje ninguém, nenhum dos dois nota que a única nota que ainda toca é um Sol Menor.

Os dias estão nublados, lá fora faz menos frio do que aqui dentro.

E você segue com seu jeito, como se fosse feita gelo.

Sei que estamos tão descuidados, mas não por falta de amor, mas sim por falta de atenção.

Sei que estou tão distante, voando alto, mesmo estando ao seu lado e com os pés no chão.

Sei que tudo se encaminha para o fim, como um filme, só que desta vez não se vê os créditos.

Pois nós dois já sabemos que perdemos o prestígio, as contas, a confiança e os créditos que tínhamos um pelo o outro.

Sei de tudo, mas ao mesmo tempo não sei de nada. É tão confuso quando se fala do outro, como se fosse de você mesmo. É tão estranho calcular os passos que nos distanciam cada vez mais. É mais estranho ainda saber que antes entre nós dois tudo fluía, tudo era rima, tudo era simetria, tudo era poesia. Agora entre nós dois nada mais tem rima, e é uma pena ver o quarto, o coração e a sala tão vazia, sabendo que entre nós dois se faz/fez/fazia tanta poesia.