Sobre a Madrugada - Parte II
Ó Madrugada, companheira inseparável
Professora iniludível do que é humano
Somente o homem em engano
Não reconhece sua natureza incontrastável
Ó Madrugada, delatora dos amores
Berço da devassidão
Que faz encher o coração
De romantismo... de ardores...
Ó Madrugada, operadora da verdade
Vivente de nós mesmos
Faz desaparecer nossos placebos
Revelando o que é de nossa intimidade
Ó Madrugada, trabalhadora incansável
Laboras sem parar ano a ano
Trazendo ao animal insano
Um pouco daquilo que é humano
Mas também não esquece
De dizer-lhe: não se apresse!
És medida de si próprio
Pois o mundo que tu crias
Feito de ópio
Às profundezas cairá
Eis então a hora de acordar
Sem dormir, em cansaço
És tu Madrugada o nosso despertar
Quando nos mandaram calar, sonhar.
Ó Madrugada, denominada solidão
Àqueles que não percebem sua companhia
Como cão de caça em pradaria
Cego, farejando, perdido na imensidão.
Ó Madrugada momento esplendoroso
Para quem te conhece e lhe aproveita
Trazendo-nos os gozos
Que a vida nos deleita.
Ó Madrugada, dir-te-emos: Obrigado!
E que não nos abandone
Neste mundo desgraçado
Em que a verdade se esconde.