Eco

Um rito de absurdos.

Eu sigo espancada,

de joelhos em meio aos frutos

de uma mente mal arada.

Já cuspi terra dessas dores,

mastiguei correntes e

afoguei no meio da rua,

nas poças e nas lamas;

já mastiguei cera quente

e até abracei mil gentes

pra tentar conter o meu pesar.

Começo a crer

no desespero do tempo

preenchido com palavras vãs

e silêncios igualmente vãos.

Começo a temer

tudo que me dá alento.

Já me arrependi e montei um altar

onde pedi orientação divina

a deuses e deusas

de todos os tempos.

Quando não pude falar --

emudecida pela carne que grita --,

deixei o silêncio suplicar.

Mas meus desejos têm muitos ecos,

e meus passos não são retos.

Acho que assim enlouqueci

os deuses e deusas.

Agora é só caos,

agora é só absurdidade.

Quero destruir o altar,

quero rasgar as deidades.

Quero urrar até emudecer.