Ave

Antes dirás o que mais se morre, Ave,

De tanto amor e gesto nulo

O despedir-se de longe

Encarnado de adeuses,

Os afagos ausentes, as memórias

Tão antigas e veementes

É o que mais se me morre

Enquanto canto a duração

Das ilusões.

Morrerás do meu verso, Ave,

O meu lábio há de pousar

No teu bico, e tuas asas

Hão de cobrir meu corpo

- Sudário esfacelado -

E os olhos hão de ferir

Teu voo funesto

Vívido de ausências

Planando no nada

Descontente e ileso.

Antes dirás o que mais se morre

Além de ti e de mim, e de nós.

Fernando Marini
Enviado por Fernando Marini em 05/07/2014
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