RECICLAGEM

Aprendi a me reciclar. Aprendi na marra a rever conceitos. Aprendi no grito a esperar. Aprendi caindo a me levantar. Levantando aprendi a andar. Percebi que nem sempre o que a gente espera acontece, quem a gente ama desparece, o que a gente faz não se esquece. Espontaneidade nem sempre é vista. Muita gente não aceita a verdade. Quantas vezes joguei fora a felicidade... Tive amigos aos montes, me faltaram até dedos. Agora só sobram saudades, lembranças e falsidades. Quantas vezes me decepcionei. Tantas vezes chorei... Mas nada se compara a quando no espelho me olhei, quando a ficha caiu, quando meu mundo ruiu. Olhei em volta e não tinha nada, olhei em mim e só via marcas, olhei bem fundo e senti desprezo, olhei pro chão e senti o peso. O peso da revolta, o peso da vergonha, a vergonha do que não tem volta...

E então eu caí. Me deixei cair, aliás. E cavei cada vez mais fundo, e quanto mais eu caía, mais raiva sentia, e mais fundo eu ia. Sentia até prazer em me afundar, eu merecia aquilo. Acostumada com a dor, até me deixei abraçar, sentia a solidão a me embalar. Inesperadamente senti algo em mim brotar, podia sentir a dignidade voltar. A vontade de viver a me aquecer, e ser eu mesma pra crescer. Sofri, sofri sim, e muito. Mas quem não sofreu? Não me tornei por isso especial, não ganhei uma placa ou um memorial. Não recebi honras e homenagens, nem mudei minha linhagem. Não ganhei uma biografia autorizada, nem uma casa com sacada. Da vida vi muito pouco, tenho muito pra viver, tenho muito pra aprender, tenho tanto pra sonhar, mais ainda para amar. Muito tempo pra chorar, mais ainda pra acordar.

05/12/12

Lu Ciana
Enviado por Lu Ciana em 04/07/2014
Reeditado em 18/02/2018
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