Não prives

Não te prives do corpo,

esta telúrica assistência

a que te povoaram os anjos.

Não te prives do jardim,

a corola do dia nas urdiduras

extremadas dos jasmins.

São sinais da graça, e passarão.

Outros, em maio, saberão do que falo.

Não te prives das sonolências,

da exaustão de possuir um segredo

e do desejo mesmo remoto da renúncia.

A claraboia do poço. A árvore anã,

o cesto despojado, o madrigal melancólico,

os papéis amarelos, o luar e sua assinatura,

a rutilância do efêmero que denuncia

a raridade de uma vida.

Não te prives. Ou viva.

Fernando Marini
Enviado por Fernando Marini em 04/07/2014
Código do texto: T4869555
Classificação de conteúdo: seguro