Não prives
Não te prives do corpo,
esta telúrica assistência
a que te povoaram os anjos.
Não te prives do jardim,
a corola do dia nas urdiduras
extremadas dos jasmins.
São sinais da graça, e passarão.
Outros, em maio, saberão do que falo.
Não te prives das sonolências,
da exaustão de possuir um segredo
e do desejo mesmo remoto da renúncia.
A claraboia do poço. A árvore anã,
o cesto despojado, o madrigal melancólico,
os papéis amarelos, o luar e sua assinatura,
a rutilância do efêmero que denuncia
a raridade de uma vida.
Não te prives. Ou viva.