Pedigrees condenados
Pedigrees condenados
Um humano, que bípede dependente!
Sabe nada, inocente!
Sou obrigado a distrai-lo, desestressá-lo!
Coitado!
Prisioneiro arrasto-o pelas ruas, avenidas, calçadas a passear...
E eu como fico?
Preso a uma corda, limitado aos seus caprichos,
nem minhas fisiológicas necessidades faço-as em liberdade,
deixando-as expostas, para a outros incomodar,
obrigando o meu bípede sem constrangimento nenhum a limpar.
Que disponibilidade!
E há quem diga: Pedigree amado, que vida boa... Casa, comida e pelo lavado.
Com direito a lazer e passeio diário!
Forço, estico... Saio a correr, a trotar.
Lato, em estranhos pulo mordo, em outros cães chego, cheiro, quero transar.
Alegria não posso demonstrar. Meu pescoço à corda amarrado a me sufocar.
Segurando-me o meu humano bípede: “Totó pare, passe!” Põe-se a gritar.
Preso, vivendo em luxuosas casas ou apartamentos, encarcerados
em espaços confinados, ocasionalmente bem alimentado sou um cão infeliz.
Falsamente feliz, ainda abano o rabo,
quando o tenho, se o meu querido dono, desalmado não tiver cortado.
Mijo, cago... Esfrego-me em carniça, da minha natureza minhas defesas,
para enganar predadores com certeza.
Não é que o meu amado bípede, vaidoso, estressado
teima em me ver perfumado?
Banhos, tosas, escovas, até meus caninos dentes lavados...
Em periódicas visitas ao salão de beleza.
Um raçudo como eu alimentado com ração. Isso lá é vida de cão?
Minhas caças, minhas paqueras – nem agarrado fico mais!...Vida de luxo.
Tudo ilusão!
O meu charme: “De orelhas em pé, alerto fico. Enxergo bem. O meu olfato é meu triunfo. Sabido, falto só falar.
Porque os humanos insistem em me aprisionar?”
Amor de bípede, afagos de riquinho... Que estrago!
Por isso eu lato: Au, au, au... Liberdade. Se não eu viro um gato!
BNandú 01/jul/2014