Essa sou eu
Já perdi noites só de pensar em alguém e já dormi de tanto pensar. Acordei pensando no que poderia ter falado e já me arrependi em falar muita coisa. Abracei quando era para me afastar e afastei quando era para me aproximar. Já cantei para não chorar e já deixei de chorar quando era preciso. Amei quem não merecia e deixei de amar quem tanto me queria. Dancei quando a música parou e deixei de dançar quando me convidaram. Já despertei paixões por mero capricho e já apaixonei por quem só quis prazer. Esqueci o nome de quem me proporcionou momentos felizes e lembrei-me de nomes que me fizeram sofrer. Já plantei e nunca colhi e já colhi o que nunca plantei. Já sonhei demais ao ponto de confundir com a realidade. Já tive medo do escuro, hoje no negrume sinto aconchego. Já brinquei quando era para ser autêntica e já levei a sério o que era uma brincadeira. Já me entreguei quando era para me esconder e escondi quando era para ser vista. Já tive amores platônicos e quando descobriram deixei de amá-los. Já tive crise de risos quando nem poderia resplandecer a face. Já menti quando era para falar uma verdade e já fui sincera quando era para omitir. Caí por muitas vezes achando que ali era meu lugar e já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais. Já liguei para alguém que não queria só para não ligar para quem eu realmente desejava ouvir a voz. Já andei de mãos dadas com alguém que não me respeitava e de braços cruzados deixei o verdadeiro homem caminhar sozinho. Já disse “eu te amo” para quem nunca amei e já recebi inúmeras declarações de dissimulados. Já deixei de expressar meu amor para quem meu coração sempre chamava e já me iludi com tantas emoções. Já me arrependi de não ter feito e do que já fiz. Já tive pesadelos achando que iria morrer e quando acordei desejei que eles fossem reais. Já chamei muitos de amigo e na minha fragilidade quando mais precisei, descobri de uma maneira triste e desesperadora que não era amigo. Já me surpreendi com pessoas que nunca notei sua presença e me estenderem suas mãos na minha adversidade. Já magoei quem apenas queria uma companhia e já fui magoada por ter vontade de estar perto. Já pedi perdão milhões de vezes e reincidir. Já perdoei e fui traída novamente. Já abri mão por orgulho e medo de ser renunciada primeira. Já fui egoísta a ponto de machucar quem tanto me prezava e hoje me vergonho. Já me peguei falando alto sozinha e vi muitas pessoas na rua conversando com seres inanimados. Já ri tanto dos meus devaneios e já construí situações inusitadas a ponto de me espantar com tanta imaginação. Já prometi sabendo que não iria cumprir e já cumpri o que nunca prometi. Já me prometeram as estrelas de um sonho compartilhado que nunca recebi e já me levaram as nuvens quem nunca imaginei. Já deixei quem tanto me esperou e já esperei quem nem se lembrava de mim. Já corri atrás de quem nunca olhou para trás e já dei as costas para quem sempre me seguiu. Já tomei inúmeras decisões sem pensar e já me arrependi de decidir racionalmente. Já ganhei jogos que não sabia jogar e perdi com desejo de ganhar. Já brinquei na chuva escondida dos meus pais e já me escondi da tempestade com medo de me molhar. Já arranquei flores do jardim só para brincar de “bem me quer” e já protegi as rosas para conservar seu perfume. Adoro sonhar acordada, assim me concedo. Gosto do impossível e tenho receio do provável. Divirto-me cantando e equilibrando no meio fio. Meus delírios sempre me acompanham quando penso no pretérito e conto as estações para ver se meu futuro será como sonho. Tenho fetiches com detalhes de uma face. Amo adrenalina. Desejo nunca acordar e quero sempre viver intensamente. Detesto ser encarada, mas amo olhar. Tento ser maliciosa nos sentimentos e parar de ser ingênua nos atos. Faço o que tenho vontade e deixo de fazer por consciência. Não entendeu? Essa sou eu.