Música Para Nenhuma Dança
Bebo uma xícara de café quente
Envolto pelas paredes do escritório.
Minha cabeça está baixa
E desenho figuras geométricas
Em meu bloco de papel.
Para onde foram as pessoas
Das festas, dos púlpitos, dos palcos?
Onde está o orador da turma
Com palavras encorajadoras?
O café está quente
O ar gelado
Esta sala não me deixa infeliz
Pelo silêncio
Mas o ruído das ruas sim
Pela falta de significado.
É possível ouvir Rachmaninoff em
Uma explosão nuclear e ver
Beleza matemática na ruína
Do Sol
Mas sou um homem confuso.
Não sei dançar
Não sei agir
Não sei falar.
O dinheiro não carrega meu rosto
E tampouco os prêmios
Em alguma coisa notável,
Sou junkie nas horas vagas,
Detesto a sociedade
Detesto a igreja
E acredito
Que o homem deveria
Ter mais coragem.
Tudo isso é música inútil:
Sirvo uma bebida a Deus
Em homenagem a sua carne
E sirvo uma bebida a mim mesmo
Em homenagem ao meu espírito.
Eu me afogo em álcool
E gentileza
Porque mantenho a violência
Contida
Exceto por um grito ocasional
Ou uma vidraça quebrada.
É preciso a coragem de passar fome
E de se manter iletrado
E para os que ousarem mais
O silêncio
Esmagador
De uma cela
De um quarto de hospício
De uma montanha.