Música Para Nenhuma Dança

Bebo uma xícara de café quente

Envolto pelas paredes do escritório.

Minha cabeça está baixa

E desenho figuras geométricas

Em meu bloco de papel.

Para onde foram as pessoas

Das festas, dos púlpitos, dos palcos?

Onde está o orador da turma

Com palavras encorajadoras?

O café está quente

O ar gelado

Esta sala não me deixa infeliz

Pelo silêncio

Mas o ruído das ruas sim

Pela falta de significado.

É possível ouvir Rachmaninoff em

Uma explosão nuclear e ver

Beleza matemática na ruína

Do Sol

Mas sou um homem confuso.

Não sei dançar

Não sei agir

Não sei falar.

O dinheiro não carrega meu rosto

E tampouco os prêmios

Em alguma coisa notável,

Sou junkie nas horas vagas,

Detesto a sociedade

Detesto a igreja

E acredito

Que o homem deveria

Ter mais coragem.

Tudo isso é música inútil:

Sirvo uma bebida a Deus

Em homenagem a sua carne

E sirvo uma bebida a mim mesmo

Em homenagem ao meu espírito.

Eu me afogo em álcool

E gentileza

Porque mantenho a violência

Contida

Exceto por um grito ocasional

Ou uma vidraça quebrada.

É preciso a coragem de passar fome

E de se manter iletrado

E para os que ousarem mais

O silêncio

Esmagador

De uma cela

De um quarto de hospício

De uma montanha.

Daniel Barbosa
Enviado por Daniel Barbosa em 27/06/2014
Código do texto: T4860862
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