Camões, Jacob, Raquel, Lia, Marx e Mais-valia
Quem mandou, ó pastor
Enganar Labão, pai de bela moça
E não se sabe é se o velho foi que o enganou
Velho safado que a filha usa, negocia
Por que escondeu Raquel e deu a Lia
Jacob, pastor sem ver as ovelhas, uma lhe davam
Outra ele queria
Entristeceu assim o pastorzinho
Ciente estava de que cumprira além da risca
Mas o sogro o enganava
E dizia: esta é minha, ninguém trisca
Dessa forma foi que o pastor utilizado
Trabalhador enganado
Explorado antes de Marx falar da mais valia
Do sogro tinha o que não queria
E assim o pobre coitado
Se meteu a novamente
Mais sete anos condenado
A duras penas em busca de Raquel
E só lhe davam Lia
***
Raquel (Luís Vaz de Camões)
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!