A TARDE
A tarde para tomar chá com torradas. E ler Mário Quintana: “Preparativos de Viagem” e “Apontamentos de História Sobrenatural”, mas o título que eu mais gosto de seus livros é “A Cor do Invisível”. Mais que isso, só Manoel de Barros: “gravata de urubu não tem cor”; e eu fiquei uma semana pensando nesse verso.
Enquanto isso, as horas dos dias seguiam ordinárias. Porque a vida é ordinária. Ninguém se ocupa em saber a cor do invisível e qual é a cor da gravata do urubu. Eu, de minha parte, estou sempre metido em apontamentos, ou em preparativos de viagem. Nem sempre há uma tarde para tomar chá com torradas...
A NOITE
A noite para não dormir. Para me ocupar das ideias que não tive ou dos planos que não fiz. Deve haver no meio disso tudo muita vida que não vivi. Se dormisse, decerto teria sonhos. E os sonhos não andam com uma reputação muito boa, dizem que são utopia dissimulada. Ainda ontem sonhei com a Paz. Não há nada pior do que desejos disfarçados de Esperança.
Hoje à tarde, depois do chá com torradas, cochilei. Sonhei com um Amanhã que veio cheio de pompa e circunstância, tinha até banda de música e sorriso para tudo quanto é lado. Mas isso tudo não era para hoje. Era para amanhã. Só para amanhã...
A MANHÃ
Quando a manhã chega já é amanhã do ontem, só que eu consigo só estar no hoje. O amanhã está sempre por vir. E eu me esqueço de tudo o que quis, nem sei o que fiz, não enxergo mais um palmo diante do nariz. O Hoje é o dia mais difícil, parece que a gente sempre tem coisas antigas para continuar e coisas novas para começar. E tem vezes que nem me lembro o que sonhei ou se sonhei. Acho que não existe Paz. Talvez porque perdemos todos a Esperança. Sobrou só o desejo, essa coisa mal distribuída entre o que a gente quis ontem e o que pensa em querer amanhã. Hoje? Queremos apenas ter um amanhã. E depois outro e outro e mais outro. E mais um, cada vez mais um.
Quando a manhã chega para trazer o amanhã que eu só consigo perceber como sendo hoje, eu faço de conta que é o primeiro dia de todos, a primeira vez de tudo. E faço questão de nascer de novo. E de novo e mais uma vez. Nascer todo dia, aumentado de tudo o que fui e quis e não fiz. De tudo que sempre esteve a um palmo do nariz.
A tarde para tomar chá com torradas. E ler Mário Quintana: “Preparativos de Viagem” e “Apontamentos de História Sobrenatural”, mas o título que eu mais gosto de seus livros é “A Cor do Invisível”. Mais que isso, só Manoel de Barros: “gravata de urubu não tem cor”; e eu fiquei uma semana pensando nesse verso.
Enquanto isso, as horas dos dias seguiam ordinárias. Porque a vida é ordinária. Ninguém se ocupa em saber a cor do invisível e qual é a cor da gravata do urubu. Eu, de minha parte, estou sempre metido em apontamentos, ou em preparativos de viagem. Nem sempre há uma tarde para tomar chá com torradas...
A NOITE
A noite para não dormir. Para me ocupar das ideias que não tive ou dos planos que não fiz. Deve haver no meio disso tudo muita vida que não vivi. Se dormisse, decerto teria sonhos. E os sonhos não andam com uma reputação muito boa, dizem que são utopia dissimulada. Ainda ontem sonhei com a Paz. Não há nada pior do que desejos disfarçados de Esperança.
Hoje à tarde, depois do chá com torradas, cochilei. Sonhei com um Amanhã que veio cheio de pompa e circunstância, tinha até banda de música e sorriso para tudo quanto é lado. Mas isso tudo não era para hoje. Era para amanhã. Só para amanhã...
A MANHÃ
Quando a manhã chega já é amanhã do ontem, só que eu consigo só estar no hoje. O amanhã está sempre por vir. E eu me esqueço de tudo o que quis, nem sei o que fiz, não enxergo mais um palmo diante do nariz. O Hoje é o dia mais difícil, parece que a gente sempre tem coisas antigas para continuar e coisas novas para começar. E tem vezes que nem me lembro o que sonhei ou se sonhei. Acho que não existe Paz. Talvez porque perdemos todos a Esperança. Sobrou só o desejo, essa coisa mal distribuída entre o que a gente quis ontem e o que pensa em querer amanhã. Hoje? Queremos apenas ter um amanhã. E depois outro e outro e mais outro. E mais um, cada vez mais um.
Quando a manhã chega para trazer o amanhã que eu só consigo perceber como sendo hoje, eu faço de conta que é o primeiro dia de todos, a primeira vez de tudo. E faço questão de nascer de novo. E de novo e mais uma vez. Nascer todo dia, aumentado de tudo o que fui e quis e não fiz. De tudo que sempre esteve a um palmo do nariz.