Entrevista com o diabo

Tua matéria

tua nuca

tua correia de fogo

Ocupo-me apenas

disto e de pouco mais:

teu semblante, pois,

É esta lâmpada

(neste ponto teus dedos inaugurariam

toda uma flora na Bahia

teu eterismo nenhum

teu cavalo-de-pau

o movimento de teu ombro)

Mas é exiguidade

tudo o que vejo, tua face,

um lampião na destra do diabo

que finalmente me encontra

de tanto que procura, imóvel,

em meu quarto, para certa entrevista

Com terno velho

unhas roídas

avança, pé ante pé,

Erguendo tua cabeça

e pára, rente a minha escrivaninha,

de lá de onde me vê:

Olha, franze o cenho, cospe no chão

diante de meu maravilhoso

tédio de topázio

Diante de minha

maravilhosa inércia mineral

(e sai, sem proferir palavra)

<poema inspirado em TODA INTEIRA, Baudelaire>

Welliton Oliveira
Enviado por Welliton Oliveira em 22/06/2014
Código do texto: T4854426
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