TARDE VAZIA
(Sócrates Di Lima)
A tarde grita...
E no meu silêncio me recolho,
Lá fora tudo se agita,
E aqui da minha janela, só de olho.
Ouço estrondos,
Fogos explodindo no céu,
Voos assustados de pombos,
Desencontrados, ao léu.
As ruas vazias,
O estacionamento sem carro,
Não vejo alegrias,
Numa árvore canta um João de barro.
Recolho-me,
E o meu silêncio grita,
Em mim, escondo-me,
E a saudade me imita.
Não quero a saudade agora,
Nem quero pensar em ninguém,
Uma festa lá fora,
Não me importa de quem....
A tarde vazia,
Solitária e bela,
Desfolha a poesia,
E mesmo não querendo, penso nela.
E por misericórdia,
A tarde chora,
Soluça na discórdia...
Grito: - saudade, vai-se embora!
E no conflito que o pensamento cria,
Deito-me sobre o leito frio,
Esqueço por um instante a melancolia,
e na tarde,
Minha vontade,
De dormir e sonhar, eu crio.