Fragmentos
Faço-me em palavras
pois em atos não sou capaz.
Versifico os sentimentos,
pois senti-los, não, não sou capaz.
Vê, esses pequenos fragmentos
espalhados pelo chão?
É uma vida despedaçada
e sem um pingo de razão.
Por mais que tente,
o que eu consigo é um mosaico.
Pequenas fissuras
separadas pelo desgosto.
Desgosto, de não poder
ser o que é
e ser aquilo que não é.
E que mais posso fazer?
Senão usar uma máscara
e ser um falso poeta,
que ama na caneta
- escreve errado e é careta.
E no vazio, cria a dor
pra talvez, morrer
por algo imaginário
e sem nenhum valor.
E, eis o problema:
não se morre em um par de linhas,
mas sim, de pouco a pouco
como a fumaça do cigarro,
que num trago é jogado pra fora
até sumir pelo ar
e é assim que eu vou
- assim que irei terminar.