Nossa gente era assim...
 
Simples, humilde feliz no seu rincão...
Na cabeça um chapé de páia
No pé... Umas zapragatas de borracha,
Feita de pneu de caminhão.
Vestiam-se umas carças surradas
Uns vestidos rodado em pano de argudão.
Nas mãos, uma pá ou uma enxada...
Arando e plantando a terra
Pra cuidar da prantação...
Esperando a chuva cair
Pra ver moiá o seu torrão...
 
Nossa gente era assim...
 
Um menino véi do bucho quebrado
Com os zoi arregalado feito cão!
Um amarelo empombado
Um bêbado no barcão da bodega
Com uma meiota de cana pela metade.
Fazia graça o melado e beberão!...
 
Um menino de recado
Do tipo maluvido comprando...
Feijão... Arroz, café e açúcar,
Mais um pacote de macarrão...
Um pacote de bolacha,
Meio litro de querosene,
De lamparina, faró e lampião.
E num podia fartá...
A farinha a rapadura,
E o fumo de rolo...
E no finá manda anotar
Tudo na conta do seu João.
 
 
Na casinha de taipa...
Uma mãe na beira do fogão a lenha
Um pai chegando do roçada.
Um véi mascando uma peia e fumo
Ou de cachimbo na mão...
Avó trançando trança, fazendo esteira,
Ou chapéu de paia de carnaúba...
 
A menina com sua boneca de pano,
Um menino com a baladeira na mão,
O bornal cheio de bolota feita de barro
Destinado a caçar avoantes, nambus e preás!
Um cachorro chamado tubarão
Um jumento chamado de piau.
Na sombra descansa...
O trabalhador braçal.
 
Assim era nossa gente...
Sem rádio, sem televisão.
Sem jornal ou revista
Só se sabia o que dava na vista...
Não se conhecia vida de artista
Mas se tinha na ponta da língua
A saga de Lampião...
Cangaceiro que assombrava o nosso sertão!
 
O maior desgosto que ali acontecia... 
Era ver uma moça enganada
Mulher casada que perdida
Que fugia na boleia de caminhão
Com motorista aventureiro,
Que sumia como bandoleiro
No meio deste mundo
Largando a tristeza pra trás...
Sem dó e sem coração!
 
Do mundo se ouvia...
As noticias de guerra,
Doenças ou as calamidades...
Morte, só sabia-se porque se ouvia,
Os sinos da igreja quando davam
As suas tristes badaladas...
Espalhando noticia de alguém que partia
Deste mundo então!
 
Assim, era nossa gente...
Feliz, às vezes tristes às vezes e animadas...
 
Há...
Há que saudade me dá...
Da minha infância longínqua
Da minha terra mesmo que sofrida
Da minha gente querida
Há...
Há que saudade me dá!
 
Das festas de São João
Do milho assado ou cozido
Da pamonha e da canjica... 
Do mungunzá!
Do aluar que se tomava
Naquelas noites juninas
Ao lado das meninas
Com vestidos de chita...
Ao lado das fogueiras
Em noites de São João
Em noites de São Pedro
Ouvindo sanfoneiro tocando
Baião...
 
Um contador de história...
Contando estória do sertão!
Há...
Há que saudades me dão!
Do nosso tempo, da nossa gente,
Gente simples do Sertão!
Há...
Há que saudades me dão!

 
                                  Russas, nove de junho de 2014...
 Hoje ao completar meus 62 anos de vida...
Ganho de presente esta inspiração... Escrever sobre minha gente, Minha vida e o meu sertão!

                       Gel... O Poetinha Filho de Russas
 
 
Francisco Rangel
Enviado por Francisco Rangel em 11/06/2014
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