“De que me valeria saber dançar?”
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Eu também não sei dançar Manuel Bandeira
E já bebi tanta tristeza que viciei nela
Mais meu heterônimo é alegre
E dança, e baila e rodopia na minha imaginação
E se embriaga de risos e bebe tanta alegria
E logo em seguida desaparece
Deixando-me com toda a ressaca da vida
E eu amanheço meio Macunaíma, meio vilão
E descubro-me ardendo em febre
Num mocambo assolado pela fome de palavras
Que nem Mario de Andrade me sacia
E corro no descampado da minha alma
Beirando o abismo do silêncio
Onde enterrou-se em mim toda a poesia
Quando vi Drummond sentado num banco
No meio do caminho
Fingindo que não me ouvia.
Por isso lhe pergunto
De que me valeria saber dançar ?
Se a lira dos meus vinte anos
Já não tem nenhuma harmonia
E se tenho apenas as lembranças de morrer
As mesmas que Álvares de Azevedo tinha
Este, foi poeta, sonhou e amou na vida.
Eu fui poeta dos pesadelos, dos desamores
E o tempo deixou em mim só despedida
Por isso é que a solidão faz do meu coração guarida.
E quando meu heterônimo retorna
E me transformo em poeta outra vez
Ai então o mundo faz sentido
Porque eu me embriago de ilusão
Varley Farias Rodrigues