Sertão
lá onde eu morava
passava João, passava boiada.
no sopé daquelas serras de mil amores
serpenteava o velho e querido Chico,
dividindo belas invernadas
e velhos grotões.
meus bois carreiros eram vermelhos,
atendiam pelos nomes: Roxinho e Rochedo.
eu ia de pés no chão
aboiando feito um louco
deixando meus comandados em real e total perigo,
mas o tempo foi passando
e eu, de lá, me separei
foi quando me mudei
para bem longe daquele torrão
não sei porque
nem qual foi a verdadeira razão.
agora, aqui estou de novo,
não reconheço quase nada
já não existem as invernadas
nem os coqueiros onde gravava os meus sinceros segredos.
de minha amada não tive notícias,
não sei se foi pisoteada
ou levada pelo cantador João.
quase morto,
fecho os olhos
em derradeira lamentação.
neste mundo de deuses aos montes
o amor que eu tinha virou poeira
nas dobras dos meus inquietos sonhos.
enfim... saudade é como beijo roubado;
ora é doce como mel,
ora é flor que morreu no nascedouro
às vezes por falta de muita água,
às vezes por sede de tudo.