Sertão

lá onde eu morava

passava João, passava boiada.

no sopé daquelas serras de mil amores

serpenteava o velho e querido Chico,

dividindo belas invernadas

e velhos grotões.

meus bois carreiros eram vermelhos,

atendiam pelos nomes: Roxinho e Rochedo.

eu ia de pés no chão

aboiando feito um louco

deixando meus comandados em real e total perigo,

mas o tempo foi passando

e eu, de lá, me separei

foi quando me mudei

para bem longe daquele torrão

não sei porque

nem qual foi a verdadeira razão.

agora, aqui estou de novo,

não reconheço quase nada

já não existem as invernadas

nem os coqueiros onde gravava os meus sinceros segredos.

de minha amada não tive notícias,

não sei se foi pisoteada

ou levada pelo cantador João.

quase morto,

fecho os olhos

em derradeira lamentação.

neste mundo de deuses aos montes

o amor que eu tinha virou poeira

nas dobras dos meus inquietos sonhos.

enfim... saudade é como beijo roubado;

ora é doce como mel,

ora é flor que morreu no nascedouro

às vezes por falta de muita água,

às vezes por sede de tudo.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 07/06/2014
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