CANTAR DOLOROSO.
Amador Filho
Sou um ser em dolorosa experiência, estacionado na solidão, ruminando recordações e saudades...
É diurnal o meu sofrer... Estou em plena e completa dissonância com a vida.
Afirmam alguns escritores que o coração humano é de granito...
Infortunado coração o meu, que não consegue imolar lembranças e sentimentos, pulverizando o passado para tornar-se também granítico, insensivelmente marmóreo.
Quisera despir-me completamente dessas recordações que, qual mágico calidoscópio, projeta imagens de tempos em que eu supunha-me ditoso.
Quisera desnudar meu peito opresso dessa sentimentalidade anacrônica que tiraniza minha vida, mantendo-a desgraçadamente reclusa a uma ilusão perdida...
Lá fora a chuva cai ritmicamente... Sentindo o fascínio da noite chuvosa, que parece chorar a minha desdita, quedei-me em prece silenciosa mostrando ao Senhor da Vida, como se Ele não soubesse de tudo, o terrível drama que consome essa minha desventurada existência.
Santa Luz, 05 de junho de 2014.