DESPEDIDA
Disse impropérios
bradou, reclamou
que meus ritmos
não mais suportavam
sua cadência
Afirmou que a caligrafia
não acendia
mais suas palavras
tremeluzentes
Falou que já não podia
com minhas rimas
com os versos brancos
na sua empreitada
ela já estava
aos trancos e barrancos
Há muito andava
cansada da minha companhia
não queria mais viagens
no meio, nem no fim do dia
não se arrepiava
com meus ácidos arroubos
nem queria andar de mãos dadas
e me deixou feito louco
Enfim ela saiu sorrateira
à francesa e derradeira
das minhas páginas
foi embora a poesia
junto com a prosa
Agora que faço com esse alfabeto
de coisas extensas no meu peito
que se acha poeta?
E que me espreita e espeta
acumula saudades do poema
caí na alma feito chuva
encharcando meu ser
como um edema