DEGRAUS NAS MANHÃS
Eu te percorro nos degraus das manhãs.
Te escalo pelos relevos mínimos que descubro diariamente,
meio adivinhados, meio tateados pelas pontas dos dedos.
Sei-te nas coisas em que nunca te saberás,
pequenas, ínfimas,
e que um dia não lembrarei mais,
perdido de mim nesses olhos
onde navegarei um oceano de coisas
que não precisam ser ditas.
Eu te murmuro no vento, te persigo nas estrelas
do que poderiam ser madrugadas, se alvorecessem.
E não te encontro mais apenas porque te sou, como te és.
Não teu, mas tú. Sou.
Sou, de ti, a parte mais inalienável, refeita,
e também a mais prescindível.
Aquela que podes sempre adormecer e recalcar,
remeter ao eco das memórias por viver,
e ser como somos sempre: nossos!
Nossos,
percorrendo os degraus
que há nas manhãs …