TODOS OS DIAS

Todos os dias surpreendo as minhas palavras.

Ignoro os esconsos dos meus caminhos tantos

e os sons frescos das madrugadas.

Caminho por eles com passos desconhecidos

num ritmo de vez primeira

em caricias tacteantes de vez primeira

esculpindo anseios em gestos de luz.

Procuro-me onde estiver, sempre,

numa sucessão do que acabam por ser regressos

e bater de portas cinzentas

sem madrugadas alongando-se

contra o tempo

e contra a morte cruel do instante

que queria eternizado.

Todos os dias

as minhas palavras se torcem em versos

ruminam aquelas frases ditas de mil maneiras

até por mim mesmo, noutras horas,

e são cozinhadas neste sangue

que é um só, e espesso,

e único como um nascer de sol.

Todos os dias

me assino no tempo

e desenho indelevelmente esse traço

como uma corda que a vida vai tangendo

e dedilhando com unhas de artista.

E que, ocasionalmente, soa a mim…

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 02/06/2014
Código do texto: T4829187
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