ESPAÇO RESERVADO
Há um espaço reservado
na ante-penumbra da manhã.
É uma câmara de ecos
onde os primeiros pensamentos
ficam pulsando ritmos primevos
ao sabor do que poderiam ser
acasos despontando acasos,
e não são.
É um pórtico para um dia
que já chega com sentido
desafiador,
rico de toques positivos.
Um dia que é ele mesmo
a antecâmara de um outro dia
que o será de outro
e de outro, talvez de muitos.
Mas que também os exclui
porque nasce perfeito.
E repõe no lugar essa coisa maior,
essa sede antiga, contida,
que solta o gesto represado e diz,
escrevendo numa carícia de letras,
murmúrios insubstanciais no éter.
Vagos como a poalha húmida
que rodeia a cachoeira
e que, mesmo no calor,
arrepia.
Ténues e frágeis o suficiente
para que algum sol mais radiante
os seque sem mágoas doloridas
e deles não sobre senão o frescor
levemente onânico
inaudito e prazeroso.
Mas poderosos
quando reunidos em gota.
Escorrendo lenta
às vezes.
Ora em suaves curvas
apenas suspeitadas,
ora pingando suspirada
de sinais mais incisivos.
Ou ganhando velocidade
e tamanho
juntando-se a iguais
num percurso sinuoso
cambiante, deviante,
alucinante e alucinado,
ganhando sabores
odores,
vontade própria
e sempre, mas sempre,
sabores de descobertas…