ESPAÇO RESERVADO

Há um espaço reservado

na ante-penumbra da manhã.

É uma câmara de ecos

onde os primeiros pensamentos

ficam pulsando ritmos primevos

ao sabor do que poderiam ser

acasos despontando acasos,

e não são.

É um pórtico para um dia

que já chega com sentido

desafiador,

rico de toques positivos.

Um dia que é ele mesmo

a antecâmara de um outro dia

que o será de outro

e de outro, talvez de muitos.

Mas que também os exclui

porque nasce perfeito.

E repõe no lugar essa coisa maior,

essa sede antiga, contida,

que solta o gesto represado e diz,

escrevendo numa carícia de letras,

murmúrios insubstanciais no éter.

Vagos como a poalha húmida

que rodeia a cachoeira

e que, mesmo no calor,

arrepia.

Ténues e frágeis o suficiente

para que algum sol mais radiante

os seque sem mágoas doloridas

e deles não sobre senão o frescor

levemente onânico

inaudito e prazeroso.

Mas poderosos

quando reunidos em gota.

Escorrendo lenta

às vezes.

Ora em suaves curvas

apenas suspeitadas,

ora pingando suspirada

de sinais mais incisivos.

Ou ganhando velocidade

e tamanho

juntando-se a iguais

num percurso sinuoso

cambiante, deviante,

alucinante e alucinado,

ganhando sabores

odores,

vontade própria

e sempre, mas sempre,

sabores de descobertas…

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 31/05/2014
Reeditado em 21/06/2014
Código do texto: T4826767
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