RESÍDUOS - A Omar de la Roca
Na manhã de 30 de maio de 2014
Poema escrito em 16 de outubro de 1987.
Olhar de quem vê fundo e longe
nunca o perto e raso.
Olhar equivocado
já num retrato antigo.
O mundo passou com fúria
sem desbotar o retrato.
A criança cresceu de repente
na casa vazia.
Companheiros vão e vêm
no incessante
movimento das marés.
Nem todos voltam
que alguns seguiram caminho
ao país não nomeado
e agora usufruem
do Todo incomunicável.
Cresceu o mundo, tanto.
Tão pequeno e trancado
ficou o que era seu
sem chave nem arca, alhures.
Coração e mundo
em batalha perdida de antemão.
Urge todos os dias
assimilar o assassinato das coisas
para ainda figurar sentidos
no que resta, esta peregrinação
pela superfície das coisas
que talvez só tenham isso.
Esta sobrevivência
afeita ao descompasso
entre a espera e a vinda
entre a vontade e as pedras.
Resta a realidade
pêndulo sempre
entre o destino e o acaso
entre o ocaso e o destino.
Resta o livre arbítrio
de se deixar crescer
humilde e forte
como uma planta sem perguntas.
Abraço grande, amigo.
REPUBLICAÇÃO.