AGUARELA
Se tivesse de pintar em cores
essa vida de que não falamos nunca,
escolheria um tom bem escuro
para as zangas e as frustrações.
E haveria talvez outro,
pesado de esperança, carente,
um verde-floresta, abrindo-se
a flores de outras cores.
E amarelos e laranjas de sol,
espaçados em acasos,
com azuis puros de céu
entre nuvens intermitentes
e caprichosas.
E um branco
alvar como a alma,
onde o destino escrevesse
pela mão de alguém,
num desparrame de carinho,
palavras únicas
para toda a eternidade
dos instantes.