Agonia

Quantas vezes falei o que deveria calar...

quantas vezes silenciei o que deveria gritar!

Quantas vezes vesti o que sentia de poesia

para não sentir o frio de tantas horas mortas...

Em quantas portas tive que bater

para que meu coração não parasse de bater...

Quantas vezes implodi sentimentos

para não explodir de remorso e culpa...

Em quantas ruas perambulei à toa

sem saber que aquilo que se doa

nos esvazia por dentro...

(Doa a quem doer....)

Como é duro saber

que às vezes batemos em portas que não se abrem

que nem todas as pessoas sabem

que amor e dor não são apenas rima

Será sina?

Como alguém pode te olhar e não te ver?

Como alguém pode ser capaz

de não dar um mísero gole de água

a alguém que atravessou desertos

para matar uma sede que não era sua?

Andar pela rua? Não é nada

se comparada à agonia

de andar sobre cacos de vidro

com os pés descalços...

Ver o sangue escorrer

se misturar ao solo

ver a dor escoar e não se esgotar...

Dor calada, muda, que atravessa a alma...

quase esmagada na palma da mão

porque antes de perfurar o coração

precisa escorrer entre os dedos

e desfolhar seus segredos no papel...

E de repente a agonia

acaba virando poesia!

Ane Rose
Enviado por Ane Rose em 26/05/2014
Código do texto: T4821422
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.