Agonia
Quantas vezes falei o que deveria calar...
quantas vezes silenciei o que deveria gritar!
Quantas vezes vesti o que sentia de poesia
para não sentir o frio de tantas horas mortas...
Em quantas portas tive que bater
para que meu coração não parasse de bater...
Quantas vezes implodi sentimentos
para não explodir de remorso e culpa...
Em quantas ruas perambulei à toa
sem saber que aquilo que se doa
nos esvazia por dentro...
(Doa a quem doer....)
Como é duro saber
que às vezes batemos em portas que não se abrem
que nem todas as pessoas sabem
que amor e dor não são apenas rima
Será sina?
Como alguém pode te olhar e não te ver?
Como alguém pode ser capaz
de não dar um mísero gole de água
a alguém que atravessou desertos
para matar uma sede que não era sua?
Andar pela rua? Não é nada
se comparada à agonia
de andar sobre cacos de vidro
com os pés descalços...
Ver o sangue escorrer
se misturar ao solo
ver a dor escoar e não se esgotar...
Dor calada, muda, que atravessa a alma...
quase esmagada na palma da mão
porque antes de perfurar o coração
precisa escorrer entre os dedos
e desfolhar seus segredos no papel...
E de repente a agonia
acaba virando poesia!