DIAS MAUS

Há dias maus !

Às vezes, todos os olhos que existem no meu espelho,

não me olham docemente, como de costume.

Nem se agitam em murmúrios por detrás

de neblinas etéreas, ou das luzes quentes

duma outra margem, acompanhando

os movimentos acariciantes das mãos.

Às vezes todos eles se focam nessa lâmina

na minha mão, nos gestos precisos de barbear-me,

e o som que ela faz é tão alto, tão áspero,

que o dia começa mal.

Como um instrumento que cai

do seu estojo de veludo,

e precisa ser reposto no lugar.

Com cuidados extremos !

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 26/05/2014
Código do texto: T4820698
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