COR DESTINO

Talvez haja palavras mais além das palavras mais simples.

Que me expliquem mais em azul, quando quiser dizer “céu”,

ou que façam mais verde a erva nos campos

por onde galopa, disparado, esse cavalo que monto

rumo ao mais lento de todos os destinos.

Há-as mais claras, mais veementes e mais belas.

Mas eu sou caminheiro antigo,

e busco-as nas curvas feitas pelos caminhos,

nos segredos da poeira mil vezes levantada,

que mil vezes assentou lentamente sobre o mundo,

-e mil vezes revelou detalhes preciosos

de histórias que ninguém contou.

Venho dum tempo

em que as palavras eram fáceis e iguais,

preciosas, fáceis de usar.

Soavam, diziam.

e não contavam histórias.

Hoje conto, de todas as vezes,

cuidadosamente,

o preço que pago para que as contem.

E digam exactamente

que cores quero no meu céu,

e como pinto o meu destino.

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 26/05/2014
Código do texto: T4820689
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