ROMPIMENTO

No rompimento do pranto, sangrante

qual um açude ,após o inverno ,nas terras

antes ressecadas em rachaduras,

cumpre-se um ciclo de dor,nesse instante...

Tu vais embora do sonho e assim encerras

teu próprio capítulo de aventuras...

Eu porém cantava dançando ao vento,

embalada em estranha alegoria:

para mim o futuro estava perto,

e se representavas o momento,

eu, na ilusão do amor, não o percebia

em vez de distante, via-te perto...

No rompimento do pranto,a represa

que parecia tão forte,desmanchou-se

com a força do meu pranto em enxurrada...

Nada percebes, deixando-me acesa,

(uma vela de cera que apagou-se

a fingir que tanta dor, não era nada)...

Resiliente, vou fazer a argamassa,

cimento ,pedregulhos , água e choro,

mais meu desejo de reerguer um muro,

bem misturados -pois tudo um dia passa

se os passarinhos vão fazendo coro,

enquanto quem sofre trabalha duro...

Desta vez, deixarei um bom espaço

para que as águas não derrubem o dique,

de forma que eu possa nadar,contente

em meu próprio caudal, sem nenhum laço

que se desmanche ou que me modifique,

porque a partir de agora, eu sou de aço...

Cantarei com as aves matutinas,

dançarei com o vento e as andorinhas,

ficarei acordada, com as corujas...

Olvidarei bem depressa, as doutrinas

escrevendo certo em todas as linhas

deixando brancas as lembranças sujas...

Sim, porque sujaste meus sonhos brancos,

com tuas mentiras cruéis e inconseqüentes...

Mas enquanto eu me refaço no agüaceiro,

sei que foges aos trancos e barrancos,

por causa dos remorsos insistentes...

Mesmo encharcada, estou em Paz primeiro...

Melhor assim:sendo mulher , sou forte

prefiro perder antes que depois

de ficar dependente desse encanto,

nesse engano,é preferível o corte,

nos separarmos,nos tornarmos dois,

cada um independente no seu canto...

Não voltes nunca mais, vou te esquecer,

rasgar retratos, nem mesmo sonhar,

e para tal, não quero mais dormir...

Vou ser outra, com outro batom, ver

no espelho alguém bem diferente, ar

de alienada...De ti, me redimir...

(para Cristina 'M' e sua história de amor desmanchada)

Andei a escrever estes versos interpretando a dor

feminina

de quem, embora predendo uma ilusão amorosa, não deixa de

re/construir-se,

para isso usando a imagem dos açudes nordestinos, que sangram água, mas

depois continuam e se rebentam,são refeitos, sempre...

Clevane