NASCIDA a NOITE

Dos meus olhos gaviões berram

derrubando parafusos e profecias,

carrego na sombra

a astúcia facínora do lobo

e se jogo a pele num xadrez

desesperançado

é porque conheço a fresta

por onde os subterrâneos

iludem carrascos.

Estendo as asas que me fazem

menos deus

e analfabeto como um mito

queimo o rastro

vestindo o palhaço no rosto

fatigado de desculpas,

pois desmontado do cavalo

descobri que o motor trava

- nascida a noite.

Cubro o sexo para que o sol

imante mártires em outras terras

trago na algibeira

a bússola pousada pelo galo

do fim do mundo que esporeia

o destino barganhado pelo jogador,

estou na face do caos

toda queda dos ídolos

é previsível

o banquete está servido

sobre a mesa a cabeça do mendigo

e a cobra pregada pela papoula,

é chegado o tempo da cólera

- na praia o corvo revela

a identidade da Abandonada,

carrego nas costas o átomo das circunstâncias

pagando as promessas do próximo

pois o clamor da plebe

degola a Verdade