Lua cigana

Me venha crescente ou nova, em fase de produzir-se,

Seja luz que a noite adentra

e encaminha o dia novo.

Me venha cheia de si, esparramada de cios,

Sendo aluada e prenhe

dos risos com os quais me movo.

Me venha como quem sangra e se faz de terra fértil,

Sendo fermento que nutre

os ramos dos pés do povo.

Me venha como farol que diz sempre a direção,

Sendo ao perdido, a esperança,

E ao desespero, o estorvo.

Me venha em personagens de Saras, Jorges e bruxas,

Sendo o que a mim barra o algoz

E contra o increu aí me atrevo.

Me venha em cantos e ritos que fazem n’alma o encanto,

Sendo o que crava o sonido

Enquanto os sonhos avivo.

Me venha qual risca fina, ponta de faca e de unha,

Sendo o que lanha e que arranha

Enquanto a paixão faz-se crivo.

Me venha, mesmo que míngue, mas seja sina de estrada,

Sendo o destino e o norte

Dos rumos que enfim desbravo.