JAMAIS TE SONHEI MAR
Jamais te sonhei mar,
imensidão, infinitude.
Mas sempre ambicionei
que em ti o meu nado
fosse poema e deslumbramento,
carícia total em gesto conhecido.
Elegância escolhida sempre.
Sempre quis que as palavras
fossem passos paralelos dando voz
a caminhos convergindo ao sublime.
Por isso nunca me seduziram os murmúrios
nem as mensagens pouco firmes das lágrimas,
em emoções que a dúvida profana.
Por isso nunca olhei menos longe
que a distância confortável da abstração,
onde se difusam as formas e os medos.
Por isso nunca disse
em sussurros
o que o peito me ordenava aos gritos.
Por isso tantas vezes calei a alegria
da erva molhada das manhãs,
insisti em não entender céus luminosos
e fiz-me surdo aos dobrados bucólicos dos sinos
que me remetiam a outros tempos
- onde o tempo ainda não era um luxo.
Resultava de um lento passado,
e preconizava algum futuro.