JAMAIS TE SONHEI MAR

Jamais te sonhei mar,

imensidão, infinitude.

Mas sempre ambicionei

que em ti o meu nado

fosse poema e deslumbramento,

carícia total em gesto conhecido.

Elegância escolhida sempre.

Sempre quis que as palavras

fossem passos paralelos dando voz

a caminhos convergindo ao sublime.

Por isso nunca me seduziram os murmúrios

nem as mensagens pouco firmes das lágrimas,

em emoções que a dúvida profana.

Por isso nunca olhei menos longe

que a distância confortável da abstração,

onde se difusam as formas e os medos.

Por isso nunca disse

em sussurros

o que o peito me ordenava aos gritos.

Por isso tantas vezes calei a alegria

da erva molhada das manhãs,

insisti em não entender céus luminosos

e fiz-me surdo aos dobrados bucólicos dos sinos

que me remetiam a outros tempos

- onde o tempo ainda não era um luxo.

Resultava de um lento passado,

e preconizava algum futuro.

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 22/05/2014
Reeditado em 22/05/2014
Código do texto: T4815601
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