NO MEIO DO TÚNEL

Talvez tenha construído demasiado longo

esse túnel feito de palavras.

Esmeradas, escolhidas, polidas como jóias.

Únicas todas elas, raras e tão especiais,

mas um túnel demasiado longo,

e sem claridade na saída. Nada.

Nada, a não ser o brilho escuro, familiar,

de mais palavras florindo em momentos,

feições novas de velhos significados revistos,

velhas roupagens puídas cerzidas mais uma vez.

Apenas mais palavras.

Uma espécie de infinito tornado cúmplice,

noite, penumbra escondendo os outros,

suas dores, mágoas, medos, monstros,

e escondendo-me de quase todos eles,

dando-me o tempo de ainda mais um poema,

jamais singular e jamais definitivo

como desejaria que fosse.

Mas jamais apenas um poema feito de luz,

maior que apenas um monólogo incontido

mostrando-se além da prudência

que o tempo trouxe.

E, inevitávelmente,

jamais apenas algo que me colocasse

além das simples palavras.

Monólogos no meio do túnel.