PIEGAS

Não quero ser o último a chorar.

O clã amaldiçoado não erra de lugar

As águas soluçantes,

Meu dissabor. –Todos dizem sim.

O barulho do portão,

Sinto palpitação.

Eu morri um pouco ontem, mas continuo aqui, no azulejo gelado do banheiro.

-Digo sempre que sim.

Me entrego sem luz e garantias.

Estou despido e cambaleando ao vento, ouvindo os barulhos do trovão

E zumbidos no ouvido decrescente, marcado por ordem avulsa, obcecada por burocracia.

Tempinho amiúde.

Entro nas profundezas, amo nas profundezas

Mergulho, nado, transbordo, afogo, empanturro, embriago, lambuzo, excito, vomito.

E a fadiga é Deus.

O bicho come o próprio bicho

o véu das noivas não disfarça

Sorriso amargo, o contrato, de novo o clã.

Moço, não sei se você sabe,

Não sei se pode imaginar

Mas se souber, mantenha tudo em segredo.

Tente não resgatar histórias de amor, tente não poetizar minha rotina,

Tente não fazer barulho ao entrar, use logo e, depois, saia sem olhar pra trás.

Não sou Geni, mas você tá aqui só por causa do zepelim. –Deve ser pelo clã.

Não sou só para uma noite, mas também não sou amor de novela,

Também não sou oração, muito menos leis romanas.

Será que sou frases, títulos, argumentos, pontuações ou conclusões? Bom, acho que sou as entrelinhas.

Ampulhetas silenciosas, ansiosamente anunciam o momento perdido,

Para que eu me desespere e opte por permanecer ao seu lado.

O que elas não sabem é que eu já sei.

E quando explico tudo detalhadamente, chamam-me de: piegas.

Lucas Guilherme Pintto
Enviado por Lucas Guilherme Pintto em 20/05/2014
Código do texto: T4812963
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.