PIEGAS
Não quero ser o último a chorar.
O clã amaldiçoado não erra de lugar
As águas soluçantes,
Meu dissabor. –Todos dizem sim.
O barulho do portão,
Sinto palpitação.
Eu morri um pouco ontem, mas continuo aqui, no azulejo gelado do banheiro.
-Digo sempre que sim.
Me entrego sem luz e garantias.
Estou despido e cambaleando ao vento, ouvindo os barulhos do trovão
E zumbidos no ouvido decrescente, marcado por ordem avulsa, obcecada por burocracia.
Tempinho amiúde.
Entro nas profundezas, amo nas profundezas
Mergulho, nado, transbordo, afogo, empanturro, embriago, lambuzo, excito, vomito.
E a fadiga é Deus.
O bicho come o próprio bicho
o véu das noivas não disfarça
Sorriso amargo, o contrato, de novo o clã.
Moço, não sei se você sabe,
Não sei se pode imaginar
Mas se souber, mantenha tudo em segredo.
Tente não resgatar histórias de amor, tente não poetizar minha rotina,
Tente não fazer barulho ao entrar, use logo e, depois, saia sem olhar pra trás.
Não sou Geni, mas você tá aqui só por causa do zepelim. –Deve ser pelo clã.
Não sou só para uma noite, mas também não sou amor de novela,
Também não sou oração, muito menos leis romanas.
Será que sou frases, títulos, argumentos, pontuações ou conclusões? Bom, acho que sou as entrelinhas.
Ampulhetas silenciosas, ansiosamente anunciam o momento perdido,
Para que eu me desespere e opte por permanecer ao seu lado.
O que elas não sabem é que eu já sei.
E quando explico tudo detalhadamente, chamam-me de: piegas.